Senao - Aprendizagem industrial

A transformação digital já é uma realidade e o Senai, referência nacional em aprendizagem industrial, está cada vez mais focado em preparar seus alunos para esse novo perfil do mercado de trabalho

*Por Sheila Moreira | Fotos: Divulgação

Em tempos de 4ª Revolução Industrial, entre tantas perguntas que surgem, está a de como será o perfil profissional da indústria no futuro. De acordo com o Mapa do Trabalho Industrial 2019-2023, divulgado pelo Senai – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial em agosto, as profissões ligadas à tecnologia estão entre as que mais vão crescer nos próximos anos. A sondagem aponta que a maior taxa de crescimento do número de empregados para o período será na área de condução de processos robotizados, com 22,4% de aumento nas vagas. Para demais ocupações industriais, a projeção de crescimento é de 8,5% (saiba mais sobre a pesquisa no box ao final do artigo).

Professor Ricardo Terra

Ricardo Terra, diretor regional do Senai – SP

A transformação digital exige, além da atualização dos profissionais que já estão no mercado, a atenção do setor de educação profissionalizante. Segundo Ricardo Terra, diretor regional do Senai – SP, a Indústria 4.0 é desafiadora para a instituição em relação ao mercado e, também, ao ensino de jovens de gerações superconectadas. Por isso, o Senai conta com uma área de inteligência de mercado para identificar tendências. “É preciso mensurar o impacto dessas tendências no capital humano. Temos estruturas internas para dar respostas rápidas ao mercado, que é quem guia as nossas ações. Nosso foco é sempre o desenvolvimento de pessoas.”, diz.

No âmbito do mercado, Terra destaca que grandes corporações possuem uma estrutura mais afinada em relação ao desenvolvimento de pessoas, o que (no geral) não acontece em empresas de pequeno e médio porte. “Para essas empresas, nós temos indicadores de mudanças de capital humano. Porém, de nada servem esses dados se não houver transformações que tornem os processos industriais mais enxutos. O primeiro passo para a digitalização é a revisão dos processos”, comenta o diretor. Ele também cita a importância de iniciativas como o Programa Indústria Paulista mais Competitiva (IP+C), desenvolvido para aumentar a competitividade da indústria e baseado no lean manufacturing. De acordo com dados do Senai, mais de 450 empresas já participaram do programa e apresentaram ganho de produtividade médio de 40%.

Para Terra, uma das grandes vantagens da educação profissionalizante, sob o ponto de vista dos estudantes, é a possibilidade de aplicação imediata do aprendizado no mundo real. “A área de tecnologia tem retroalimentado a área de educação do Senai. Nós temos uma grande preocupação com a mudança dos perfis profissionais e, por isso, trabalhamos para que inovação e tecnologia cheguem às salas de aula. Afinal, nosso ensino é focado no aluno”, explica. O diretor regional salienta a importância do Instituto Senai de Inovação (ISI), criado para ser uma ponte entre as pesquisas acadêmicas e as necessidades da indústria nacional.

A rede de institutos conta com 26 unidades espalhadas por todo o território nacional que atendem a diversas áreas (de acordo com as demandas locais): manufatura avançada e microfabricação, materiais avançados e nanocompósitos, biotecnologia, automação da produção, microeletrônica, energias renováveis, conformação e união de materiais, etc. “Para tornar os institutos realidade, o Senai teve consultoria do instituto alemão Fraunhofer, uma referência global em pesquisa aplicada. Ou seja, estamos sempre em articulação com instituições internacionais com a preocupação de estarmos alinhados com as demandas globais de inovação e tecnologia”, afirma Terra. Outra organização com a qual o Senai se relaciona é a BIBB – Bundesinstitut für Berufsbildung, instituto alemão de educação e formação profissional. A intenção é que o Senai esteja sempre a par do mercado de trabalho europeu. “As grandes corporações são globais. Não demora muito tempo para as demandas europeias chegarem ao mercado nacional”, conclui o diretor regional Ricardo Terra.

 

Inovação em manufatura avançada e microfabricação

A Escola Senai Suíço-Brasileira “Paulo Ernesto Tolle”, localizada no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, é uma unidade do Instituto Senai de Inovação. Focada em Manufatura Avançada e Microfabricação, que oferece cursos de formação inicial e continuada (Mecânica, Automação da Manufatura, Energia, etc.), e cursos técnicos (Gestão de Qualidade e Mecânica). No campo do ensino superior, a Faculdade de Tecnologia disponibiliza cursos de graduação (Tecnologia em Mecânica de Precisão), extensão e pós-graduação.

José Heroino, diretor da Escola Suíço- Brasileira

José Heroino, diretor da Escola Suíço-Brasileira, esclarece que os cursos não são focados em todas tecnologias habilitadoras da Indústria 4.0, mas em processos de manufatura avançada: “Trabalhamos a aplicação dessas tecnologias inovadoras no desenvolvimento dos cursos, que são voltados para processos de manufatura complexa”. Na área de usinagem, por exemplo, que é de extrema importância para o curso de Mecânica de Precisão, foram elevados os níveis de tecnologia de máquinas (cinco eixos), materiais e softwares CAM. “Na automação, buscamos atender as áreas de parametrização, de tratamento de dados em software específico e de integração de sistemas. O objetivo é que esses recursos possam ajudar na transferência de tecnologias e  de experiências ao longo da formação de técnicos e tecnólogos”, diz Heroino.

Uma pesquisa interna realizada pela escola mostra que cerca de 60% dos ex-alunos da área de mecânica de precisão são absorvidos pelo mercado de trabalho. Questionado se o chão de fábrica nacional estaria preparado para receber jovens de alto nível tecnológico, Heroino diz que isso pode variar de acordo com o grau de maturidade da empresa. “A maior parte dos alunos vai trabalhar em pequenas e médias empresas. Ao meu ver, com base nas empresas que tenho visitado, a maioria não está preparada. Por isso, é muito importante avaliar o nível de maturidade antes de receber capital humano. Programas como o IP+C existem para auxiliar nesse processo”, comenta o diretor da Escola Suíço-Brasileira. Heroino ainda faz uma outra observação: “O número de profissionais em idade avançada, principalmente na área de manufatura subtrativa é muito grande. Em algumas empresas, 35% dos funcionários já são aposentados. A nossa preocupação é que precisamos repor essa mão de obra”.

Para a capacitação dos alunos, e também especialização dos docentes, são realizadas parcerias com players da indústria. “Em manufatura avançada, por exemplo buscamos parcerias nas áreas de ferramentas de corte, medição e software, por exemplo. Nossos docentes participam de formações oferecidas por essas empresas. Elevar o nível do corpo docente é essencial e um diferencial do Senai”, afirma Heroino.

 

Novos cursos

Os cursos do SENAI oferecem acesso às mais recentes máquinas, equipamentos e tecnologias.

O SENAI oferece acesso às mais recentes máquinas, equipamentos e tecnologias. Afinal, é preciso que os alunos estejam preparados para as novas demandas da era digital.

A partir de janeiro, a Escola Suíço-Brasileira vai oferecer cursos técnicos de Redes de Computadores e Desenvolvimentos de Sistemas, no campo da Tecnologia da Informação (TI). O objetivo, além de integrar a área ao setor de manufatura avançada, é criar (no futuro) um curso de IoT para a indústria. Inicialmente, seriam cursos de extensão e aperfeiçoamento, mas que poderiam se estender para outros formatos.

Outro projeto, ainda em desenvolvimento, é a pós-graduação em processos complexos de usinagem. “Ao contrário do que muitos pensam, as máquinas não poderão fazer tudo sozinhas. O mercado, mais do nunca, vai precisar de profissionais qualificados para lidar com tecnologias inteligentes dentro da sua área de atuação, o que gera valor para os alunos em termos de desenvolvimento.”, conclui José Heroino.

 

Estudo do Senai prevê mais empregos para ocupações de base tecnológica

O Mapa do Trabalho Industrial 2019-2023 prevê que o Brasil precisará qualificar 10,5 milhões de trabalhadores em ocupações industriais nos níveis superior, técnico, qualificação profissional e aperfeiçoamento até 2023. No período, a área de metalmecânica vai precisar qualificar 217.703 pessoas no nível técnico e 56.437 pessoas no nível superior de ensino, fora outros tipos de qualificações.

De acordo com o levantamento, as áreas que mais vão demandar qualificação profissional são: transversais (1,7 milhão), metalmecânica (1,6 milhão), construção (1,3 milhão), logística e transporte (1,2 milhão), alimentos (754 mil), informática (528 mil), eletroeletrônica (405 mil), energia e telecomunicações (359 mil). Profissionais transversais são aqueles que podem atuar em diversos segmentos da indústria, como profissionais de pesquisa e desenvolvimento, desenhistas industriais, etc.

O Mapa aponta uma maior demanda por qualificação para trabalhadores já empregados. Trabalhadores que precisam de qualificação para ingressar no mercado são a minoria (22%). Em relação aos novos empregos, a pesquisa mostra que as ocupações com maiores crescimentos são de base tecnológica: condutores de processos robotizados (aumento de 22,4%), pesquisadores de engenharia e tecnologia (17,9%); engenheiros de controle e automação, engenheiros mecatrônicos e afins (14,2%); diretores de serviços de informática (13,8%); operadores de máquinas de usinagem CNC (13,6%).

 

 

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