A edição 2019 da Expomafe teve como um de seus principais objetivos mostrar que as tecnologias de ponta, incluindo as que envolvem o conceito de Indústria 4.0, podem (e devem) estar presentes em empresas de todos os portes. Os pavilhões do São Paulo Expo mostraram soluções mais acessíveis e de mais fáceis aplicação e controle.
*Por Denise Marson | Fotos: Divulgação
No momento em que a maior parte das empresas brasileiras começa a se reerguer, alcançar a máxima produtividade em seus processos virou palavra de ordem. Automação, robótica, inteligência artificial, Internet das coisas, big data, customização da produção, operação a distância, Indústria 4.0 – esses conceitos e as novas tecnologias já têm seus bons resultados consolidados e, há anos, fazem os olhos dos empresários nacionais brilharem, sejam em feiras nacionais ou no exterior. Mas, principalmente entre as pequenas e médias, o interesse sempre vem acompanhado de um ou mais questionamentos: será que esse investimento não é muito alto? A operação não é muito complexa? Justamente para mostrar que esses avanços podem estar presentes nos mais variados portes de chãos de fábrica, a Expomafe 2019 reuniu fornecedores, incluindo start-ups, de várias soluções, que podem funcionar isoladamente e também de maneira integrada e que, por si só já poderão gerar consistentes ganhos. A palavra de ordem foi: desmistificar.
“Há anos, estamos desmistificando esse conceito de que essas inovações são só para os grandes. Desta vez, nossa ideia foi ‘explodir’ todas as tecnologias justamente para mostrar que, às vezes, por meio de um pequeno sensor, que hoje em dia se tornou muito barato, é possível extrair e fazer muitas análises sem que sejam necessários muitos recursos”, resumiu João Alfredo Delgado, diretor de tecnologia da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) – realizadora da feira – durante a coletiva de imprensa que precedeu o evento.
Esta ideia foi didaticamente ilustrada no espaço denominado Demonstrador de Tecnologias da Indústria 4.0. Neste ano, com o patrocínio do BNDES, foram reunidas empresas desenvolvedoras de hardware, software, máquinas, dispositivos, sensores, controles e outros dispositivos de automação juntamente com universidades e outras instituições de ensino. Seus produtos e soluções foram integrados e demonstrados em dez clusters, organizados pelos seguintes temas: Manutenção preditiva (sistemas pneumáticos); Robótica segura (interação homem-máquina); Sistemas produtivos inteligentes; Qualidade 4.0 (autonomia e inteligência artificial em processos); Manufatura aditiva (design generativo); Gestão digital; Virtualização na indústria; Ganhos com dados industriais; Manutenção preditiva (processos de usinagem); e Inteligência nas Máquinas.
À frente do IPDMAQ (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Máquinas e Equipamentos), a gerente divisional de Tecnologia e Inovação da Abimaq Anita Dedding está envolvida com o tema da Indústria 4.0 mesmo antes de ser cunhada esta expressão, quando apenas se discutia a implementação do comissionamento virtual e a integração da robótica à produção. Para ela, o mais importante é explicar para as empresas que a aplicação deste conceito não implica necessariamente na compra de uma planta totalmente nova. “É possível identificar oportunidades, implementar pequenos projetos, modernizar alguns equipamentos, dar inteligência a eles. Não é preciso que sejam projetos grandes e agressivos. É importante conhecer, adquirir segurança e avaliar novos investimentos”, analisa. Para ela, também se trata de uma visão de inovação aberta, trocar informações e trabalhar de forma compartilhada. “As empresas que se permitirem trabalhar desta forma certamente sairão na frente”.
Máquinas conectadas por toda a feira
Muito do que foi aglutinado nos clusters mostrados no Demonstrador, pôde ser visto também nas máquinas levadas aos estandes por seus fabricantes e representantes. As principais tendências presentes nas feiras internacionais como robótica colaborativa, big data, máquinas sensorizadas e o uso da nuvem para fazer as análises puderam ser presenciadas pelos visitantes. “Além delas, a manufatura aditiva, incluindo análise de quantidade de materiais e a realidade aumentada. Esta é a nova fronteira, que é trabalhar com dados qualificados que melhorem a produtividade e a eficiência da máquina, com sistemas inteligentes que consigam mudar de um modelo para o outro com velocidade. O que mais se consolidou acho que foi o big data e a inteligência artificial, que estiveram em quase todos os estandes. Não basta apenas sensorizar a máquina, mas é necessário dar uma inteligência a este dado”, observou o diretor de tecnologia da Abimaq.
Paralelamente à demonstração, muitas expositoras prepararam palestras que compuseram a programação do Parque de Ideias. No espaço, além das empresas, instituições de ensino como FEI, ITA, FAAP, USP, UNIP e Instituto Mauá de Tecnologia apresentaram seus projetos de inovação.
Números da feira
Segundo a organização, a Expomafe 2019 atingiu seu objetivo com relação ao número de visitantes: foram 55 mil pessoas, de terça a sábado (7 a 11 de maio). No total, 750 marcas nacionais e internacionais marcaram suas presenças com produtos voltados à automação industrial, robótica, manufatura aditiva, prototipagem e impressoras 3D, equipamentos hidráulicos e pneumáticos, máquinas e equipamentos para o setor metalmecânico, máquinas-ferramenta, soldagem e corte, software entre outros.
Ainda de acordo com os organizadores, os expositores também ficaram satisfeitos com o volume de negócios proporcionado pelo evento. Segundo os relatos colhidos, houve quem tivesse concretizado a venda de máquinas, iniciado novos projetos e também quem fez um bom proveito do elogiado fluxo de público qualificado para estabelecer novos contatos ou mesmo para estreitar o relacionamento com seus clientes. De modo geral, o sentimento foi o que as empresas estavam começando a “tirar o pé do freio”.
No âmbito internacional, foram promovidas rodadas de negócios entre os fornecedores locais e compradores estrangeiros. Durante as 103 reuniões, envolvendo 25 fabricantes brasileiras do setor, foram gerados US$ 6.577 milhões em negócios fechados e futuros para os doze meses seguintes. Segundo a organização, esse valor representa crescimento de 8% em relação à primeira edição da feira.
Além da oferta nacional de máquinas e equipamentos do setor, os visitantes puderam ter contato com o que as fabricantes estrangeiras têm para oferecer: foram mais de 40 empresas expositoras de países como Alemanha, China, Coreia, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Japão e República Tcheca. Algumas delas estiveram reunidas em pavilhões como norte-americano, o alemão e o chinês.
<outras atrações> História da aviação e giro com robô “radical”
Ao lado das novas ideias e tecnologias, o Estande Temático levou os visitantes a relembrar alguns dos mais representativos projetos de engenharia brasileiros. Com a exposição das imponentes réplicas feitas em tamanho real dos aviões 14-bis e Demoiselle – construídas pelo piloto e projetista Alan Calassa, com base nos projetos do criador Santos Dumont – o espaço deu destaque para o uso das máquinas-ferramenta na fabricação dos motores dos dois aeroplanos (Antoinette V8 de oito cilindros do 14-bis e Darracq 1908 de 35 cv do Demoiselle).
A construção da réplica do 14-bis por Calassa também envolveu um importante trabalho de engenharia reversa. Uma vez que não dispunha de registros do projeto original com medidas e parâmetros, ele se baseou na altura de Santos Dumont e no tamanho das rodas por meio de fotografias da época. Para o projeto do Demoiselle, foi feita uma pesquisa em revistas mecânicas antigas. Essas e outras histórias também são contadas na minissérie “Mais Leve que o Ar”, produzida pela HBO.
Outra atração bastante disputada entre os participantes da Expomafe 2019 foi o “passeio” a bordo do RoboCoaster – o primeiro robô industrial licenciado para carregar pessoas. Sua fabricante, a Kuka Roboter do Brasil, escolheu demonstrar os movimentos ágeis e precisos de sua criação oferecendo um rápido “giro”, feito em duplas, com duração de alguns minutos. A sensação era a de estar em um brinquedo radical de parque de diversões. Na indústria, este modelo é usado em simuladores de voo ou em sistemas de posicionamento humano em ambientes instáveis.