Jovens empreendedores de Startups negociando em uma sala de reunião

A Indústria 4.0 entrou no radar dos programas de aceleração de incubadoras de startups. Saiba quais são as principais demandas tecnológicas e o que é preciso para ter seu negócio selecionado.

*Por Felipe Datt | Foto: iStock

Em anos recentes, o ecossistema brasileiro de startups ganhou um importante reforço: o surgimento de aceleradoras, programas de aceleração e centros de empreendedorismo tecnológico que dedicam esforços ao segmento industrial. Com diferenças pontuais, essas estruturas buscam potencializar startups focadas na Indústria 4.0, especializadas no desenvolvimento de soluções para as fábricas baseadas em realidade virtual e aumentada, sensores inteligentes, Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), big data, inteligência artificial, telemetria e algoritmos preditivos.

A entrada nesses espaços é concorrida. É preciso, mais do que uma empresa formalizada e um plano de negócios, que a tecnologia esteja minimamente validada e que a empresa já seja operacional, gerando receita e com no mínimo um cliente em carteira. Para quem ingressa, as vantagens são inúmeras: ganho de escala, atração de investidores e a possibilidade de fazer negócios com grandes indústrias são as mais evidentes. 

Veja a seguir o que buscam os principais programas de aceleração e de empreendedorismo tecnológico do Brasil.

Rodrigo Rodrigues, Coordenador de Inovação da ABDI

Rodrigo Rodrigues, Coordenador de Inovação da ABDI | Foto: Divulgação

O programa Startup Indústria 4.0, criado em 2016 pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), tem o objetivo de fazer com que as startups possam vir a ser as catalizadoras da inovação nas grandes indústrias. A proposta é simples: as indústrias identificam um problema real em suas operações e as startups indicam as soluções. “Via de regra, o que as indústrias buscam é a maior eficiência produtiva, via aumento da produtividade ou redução de custos”, diz o coordenador de Inovação da ABDI, Rodrigo Rodrigues.

A primeira edição do programa, em 2017, teve a adesão de 10 grandes indústrias (a exemplo de 3M, Embraer e Embraco). A partir de demandas desses players, 27 startups foram selecionadas para realizar uma prova de conceito, em um trabalho de co-desenvolvimento, seguida de um piloto para testar a solução na prática. “Procuramos soluções que se conectem ao core business da indústria, à sua linha de produção, de forma a deixar a empresa mais inteligente”, diz. Isso se traduz em tecnologias de realidade virtual e realidade aumentada, sensores inteligentes e IoT.

A segunda edição selecionará 30 indústrias e 120 startups. Para ingressar no programa, é preciso que a startup esteja constituída há no mínimo seis meses e que a solução tecnológica já tenha sido testada, seja em provas de conceito, protótipos ou um MVP (sigla em inglês para produto mínimo viável). Outra demanda é que a tecnologia tenha escalabilidade, ou seja, possa ser utilizada em diversos setores e por diversas indústrias. “Procuramos startups em fase acelerada de crescimento. O programa é focado em ampliar o acesso a mercados para essas empresas”, diz.

Renata Zanuto, Head de Ecossistema do Cubo Itaú | Foto: Celso Doni

Contar com uma equipe multidisciplinar (considerando os sócios, desenvolvedores, colaboradores) é outro fator relevante para o ingresso das startups em aceleradoras ou centros de empreendedorismo e tecnologia, a exemplo do Cubo Itaú, que funciona como uma espécie de hub (centro) que conecta startups com grandes empresas e investidores. “Damos muita importância para o time. Uma boa equipe pode pivotar (mudar a direção) um modelo de negócios, um produto ou serviço e fazer a startup ir para frente”, diz Renata Zanuto, head de Ecossistema do Cubo Itaú.

Com a mudança para a nova sede, em agosto de 2018, e a ampliação do número de startups residentes (são mais de cem atualmente), o Cubo também colocou em prática uma estratégia de divisão do espaço por “verticais”, ou áreas de atuação. A Indústria 4.0 foi uma das áreas escolhidas, atraindo negócios de base tecnológica focados em aumentar a eficiência e a produtividade para as fábricas com a adoção de soluções como IoT, sensores inteligentes e inteligência artificial.

Para ingressar no centro tecnológico como residente, as startups passam por um processo seletivo que ocorre durante o ano todo, sem periodicidade definida. Via de regra, são selecionados negócios já operacionais, que gerem receita e tenham ao menos um cliente em carteira. “Avaliamos principalmente se a startup tem um produto real para resolver um problema real e com potencial de escala. A maioria das startups chega por indicação de outros empreendedores”, diz Renata. A dica é importante: a participação constante em eventos do ecossistema (conferências, circuitos, hackathons etc.) fortalece o networking com outros empreendedores e deixa o negócio em evidência.

Beny Fard, Fundador da Spin

Beny Fard, Fundador da Spin | Foto: Divulgação

O grau de inovação tecnológica, os diferenciais competitivos da solução e a escalabilidade são alguns dos fatores mais relevantes para as startups que desejam cavar um espaço em programas de aceleração ou em centros de empreendedorismo tecnológico. “Não aceleramos ideias, mas startups que já tenham uma solução validada, com ao menos um cliente e que estejam em busca de escala”, resume Benyamin Fard, sócio-fundador da Spin, considerada a primeira aceleradora de startups com foco em indústrias no Brasil.

Com sede em Jaraguá do Sul (SC) e em operação desde 2017, a Spin oferece três ciclos de aceleração anuais, com três meses de duração cada, e conexão com 10 grandes empresas com vistas a criar oportunidades de negócios. “A indústria tem apetite para inovar e a startup pode preencher a lacuna da inovação aberta. É importante que a startup já esteja operacional para levarmos ao mercado uma possível solução de prova de conceito ou protótipo”, diz.

Atualmente, são 23 startups no portfólio da Spin. A meta para 2019, quando a aceleradora abrir uma unidade em São Paulo (SP), é chegar a 50 aceleradas. “Internet industrial das coisas, telemetria e algoritmos preditivos, que podem indicar falhas nos equipamentos, são grandes tendências no universo da Indústria 4.0 e exemplos de tecnologias que nos atraem”, diz.

Conectar startups com grandes indústrias também é o objetivo do InovAtiva Brasil, programa de aceleração criado em 2013 sob o guarda-chuva do Ministério da Economia. Mesclando oferta de conteúdo desenvolvido pelo Insper e o Massachusetts Institute of Technology (MIT) com uma rede de mentores e investidores-anjo formada por empreendedores Endeavor e executivos de grandes empresas, o programa já acelerou mais de 840 startups.

Conforme Igor Nazareth, subsecretário de Inovação do Ministério da Economia, a duração do programa é de sete meses. Para se candidatar, é necessário que o negócio esteja em estágio de validação, operação e tração. A receita bruta anual precisa ser inferior a R$ 4,8 milhões. “Procuramos startups que ainda estejam no começo da operação, mas que já se formalizaram, possuem alguma venda, um track-record (histórico). A ideia é acelerá-las para que possam receber investimentos e fazer negócios com grandes indústrias”, diz Nazareth. Até o final de 2019 a meta é acelerar 250 startups.

 

 

 

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