A conectividade estará presente em toda a cadeia produtiva da indústria automotiva
*Por Christiano Blume | Foto: Istockphoto
A indústria automotiva mudará mais nos próximos 10 anos do que nos últimos 50. Entre as principais tendências até 2025 estão inovações tecnológicas nas áreas de conectividade, eletrificação e direção autônoma, assim como as revoluções nos modelos de negócios (mobilidade como serviço), que provocarão a disruptura dos modelos atuais. A conectividade e a telemática assumem papel de vital importância para a sustentação deste novo modelo de serviços e são prioridades número um nas agendas de todas as montadoras.
Neste contexto, a conectividade é uma megatendência tecnológica, que abrirá receitas e lucros adicionais nos segmentos comerciais de transporte de cargas, construção e agronegócio, em curto, médio e longo prazos – por longo prazo, leia-se a próxima década. O advento da Internet das Coisas (IoT), a conexão dos ecossistemas e o surgimento do mercado emergente e promissor de startups demandam novos serviços remotos, nos quais a integração com veículos assume papel fundamental na indústria do transporte.
A exploração de dados massificados via aplicação de Inteligência Artificial e Big Data Analytics deve gerar novas oportunidades de receita e monetização na prestação de serviços, de modo a atrair novos atores para o cenário automotivo, tais como os gigantes digitais IBM, Microsoft, Apple, Google, Amazon, entre outros.
No curto prazo, a otimização do custo operacional (TCO) e a gestão da frota e do motorista ou operador serão vitais para a competitividade do transporte comercial. Adicionalmente, a proteção para cargas visadas e a redução de acidentes representam demandas específicas para o transporte de cargas, que dependem basicamente do acesso remoto aos dados operacionais da plataforma eletrônica do veículo.
Portanto, o acesso remoto aos dados associados à conectividade surge como fator-chave de sucesso para a atual indústria de transportes. Como consequência, a conectividade deixa de ser um diferencial para se tornar um qualificador, sendo ofertada como um standard de fábrica pela maioria dos fabricantes de veículos comerciais, por meio de soluções de conectividade das marcas extensivas às frotas multimarcas. Em médio e longo prazos, a conectividade se tornará uma commodity essencial para a operação das novas tecnologias da indústria automotiva, que são os veículos autônomos e veículos elétricos.
Longo caminho
É verdade que ainda há uma grande necessidade de superação de obstáculos para a conectividade e a telemática, como a precária cobertura da infraestrutura de telecomunicações nas estradas brasileiras e sites remotos, a ausência de protocolos para interface de dados (APIs) e gestão integrada de frotas multimarcas, e a segurança cibernética com riscos à segurança operacional e à privacidade dos dados.
No caso específico do Brasil, espera-se uma grande melhoria na infraestrutura de telecomunicações, principalmente nas rodovias (transporte comercial) e na zona rural (agronegócio). No atual cenário brasileiro de comunicação de Serviço Móvel Pessoal (SMP), a implantação da cobertura de banda móvel pela Anatel prioriza apenas os centros urbanos, não havendo demanda nos editais de licitação para a cobertura nas áreas acima mencionadas. Por outro lado, uma maior transparência num plano para a implementação e a descontinuidade das tecnologias de comunicação é necessária. Outro aspecto também é o modelo de negócios adotado pelas operadoras de telecom e Anatel, o qual foi adequado à oferta de serviços ao consumidor final de telefonia (B2C), criando vários obstáculos para as demandas da indústria automotiva e comunicação de dados (B2B).
Mas a indústria automotiva já não pode controlar sozinha o desenvolvimento do produto da forma tradicional como foi feito, por exemplo, no desenvolvimento dos freios antitravamento (ABS) ou do programa eletrônico de estabilidade (ESP). A telemática e a conectividade são altamente dependentes da infraestrutura, especialmente das operadoras de telecom, o que muda a forma e o ritmo de como o desenvolvimento é dirigido. Parcerias individuais ou em associações entre OEMs e telecoms passam a ser importantes para o futuro de desenvolvimento automotivo.
A indústria automotiva atravessará um período de grandes mudanças nos próximos 10 anos. Essas tendências já podem ser observadas nos resultados de pesquisas do setor, realizadas nos últimos três anos. Mudanças ocorrerão tanto no campo de novas tecnologias, destacam-se aqui os veículos elétricos, autônomos e conectados, quanto no campo de novos modelos disruptivos de negócios, com destaque para a oferta de mobilidade como um serviço e digitalização.
Essas mudanças impactarão as estratégias das montadoras, com uma grande transformação de seu Core Business. O advento da Internet das Coisas (IoT) trouxe uma grande demanda por inovação com a oportunidade de oferta de novos serviços, tendo por base o veículo como um novo ativo móvel conectado. Tudo isso está demandando da indústria automotiva a construção em curto prazo de um negócio de Soluções de Mobilidade e Inovação e uma migração para a área de novos serviços.