23.04.2018

Indústria automotivaEntidades do setor enxergam um horizonte mais convidativo aos negócios, embora ainda sejam cautelosas em suas previsões

Autora: Denise Marson

Depois de quatro anos consecutivos de queda, finalmente, os investimentos voltarão a crescer em 2018. Esta foi a boa notícia trazida na edição especial do Informe Conjuntural da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgado em dezembro de 2017. O mesmo documento, porém, ressalta que “ainda há muitas dúvidas no horizonte, sobretudo no espectro político e na viabilidade da agenda de reformas”.

Compartilham desse mesmo sentimento – um certo entusiasmo comedido –, as entidades consultadas por O Mundo da Usinagem para esta matéria especial: a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei) e a Associação Brasileira da Indústria de Ferramentas, Abrasivos e Usinagem (ABFA). Em seus depoimentos, os representantes falam das perspectivas para 2018 e enumeram as ações que conduzem em prol de seus associados.

Também em consonância com o que avaliam os especialistas de cada uma das entidades, a CNI prevê que a indústria crescerá 3%, o que deverá se refletir no aumento de trabalhadores empregados. As estimativas também apontam que a inflação continuará baixa, o que pode contribuir para a redução dos juros.

No último dia 21 de março, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central anunciou a redução da taxa básica de juros da economia brasileira de 6,75% ao ano para 6,5% ao ano. Este foi o 12º corte consecutivo na Selic e a menor taxa desde a adoção do regime de metas para a inflação, em 1999, e também de toda a série histórica do BC, iniciada em 1986. Com o “bom comportamento” da inflação, o comitê também acenou com a possibilidade de uma nova redução de 0,25% na próxima reunião, em maio próximo.

Apesar de considerar positiva a redução da taxa Selic, a Abimaq divulgou uma nota oficial em que afirma acreditar que existem outras questões que devem ser enfrentadas pela equipe econômica do Governo. “A continuidade da redução da Selic tem de ser acompanhada por medidas que se traduzam em melhores condições de financiamento aos investimentos produtivos. Somente um ambiente que incentive os investimentos será capaz de acelerar a recuperação e, no longo prazo, de sustentar o crescimento econômico”, afirmou João Marchesan, presidente do Conselho de Administração da entidade.

Em carta publicada no último dia 9 de março, o presidente da Abimei Paulo Castelo Branco também lembra duas questões que julga essenciais: as reformas tributária e da previdência. “Se o Brasil conseguir aprovar essas duas medidas até o ano de 2020, temos convicção de que a próxima década será muito melhor para o País do que o ciclo que vivenciamos agora. No entanto, para que sejam discutidas e aprovadas, é preciso que os governantes pensem primeiramente no que é melhor para o Brasil no médio e longo prazo. Com isso, o País poderá ter mais tranquilidade para desenvolver temas que estão pendentes há muitos anos. Como uma política industrial, por exemplo”.

 

Feiras: um bom termômetro

Na última semana de abril, dois importantes eventos poderão dar a dimensão do impacto que essas previsões e notícias causaram nas empresas que atuam no segmento metalmecânico. Promovida pela Abimaq e organizada pela Informa Exhibitions, a segunda edição da Feimec (Feira Internacional de Máquinas e Equipamentos) será realizada entre os dias 24 e 28 de abril, no São Paulo Expo Exhibition & Convention Center, localizado na Capital paulista. Paralelamente, de 24 a 27 de abril, a tradicional Feira da Mecânica, organizada pela Reed Exhibitions Alcântara Machado, surge repaginada, com novo nome – Mecânica Manufacturing Experience –, uma nova proposta e em um local diferente: o Expo Center Norte, também em São Paulo (SP).

 

Abimaq

Um ano de otimismo: a crise ficou para trás

José Velloso

Por José Velloso, presidente-executivo da ABIMAQ

É um ano de otimismo: a previsão é de um crescimento da ordem de 5 a 10%. À primeira vista, isso pode parecer muito, ainda mais ao sair de uma crise como esta. Mas se analisarmos que, de 2013 para cá, o setor perdeu 50% de seu faturamento, um crescimento de 5% este ano seria o equivalente a 2,5% lá em 2013. Considerando-se que perdemos 50%, para chegarmos ao que era em 2013, vamos ter que crescer 100% – e isso vai demorar muitos anos.

O otimismo vem desta previsão de crescimento, o que já é uma boa notícia: parou de piorar. Então, quem sobreviveu vai continuar sobrevivendo. Isso também se deve ao fato de que a economia voltou a crescer (em 2017, ela já cresceu 1%) e este ano deve crescer 3% e isso vai demandar investimentos, quando os gargalos aparecerem.

Em 2013, já se fazia uma estimativa de que a idade média das máquinas e equipamentos utilizados no Brasil estava em torno de 15 a 17 anos e passaram-se cinco anos, com quedas consecutivas na taxa de investimento do País e do consumo aparente de máquinas. Com isso, o parque industrial envelheceu mais ainda e começa a tirar competitividade e produtividade da indústria. Portanto, ela voltará a investir por uma questão de crescimento da economia e, também, por necessidade.

Coincidentemente, vão acontecer duas feiras importantes: a Feimec, na quarta semana de abril e, depois, no último dia de abril e na primeira semana de maio, virá a Agrishow, que é a maior feira do mundo a céu aberto, com máquinas para agricultura. As duas estão totalmente vendidas, o que mostra que o empresário está otimista.

Além das feiras, que abrirão espaço para palestras sobre manufatura avançada, a Abimaq também atua, junto aos seus associados, na promoção da exportação. Isso ocorre por meio do Projeto Apex, que realiza as rodadas de negócios internacionais, como as que acontecerão na própria Feimec, além da participação em várias feiras internacionais, nas quais os nossos associados vão com o estande para vender seus produtos. Também oferecemos o Projeto Imagem e uma prospecção de negócios.

Por meio do nosso serviço chamado Esforço Exportador, trabalhamos para transformar as empresas em exportadoras. Para se ter uma ideia, no passado, 20% dos nossos associados eram exportadores, hoje são 50%. Em 2016 e 2017, 41% do faturamento do setor foi para exportação.

Com o intuito de ajudar as empresas a entrarem nessa nova fronteira tecnológica, que é a manufatura avançada, auxiliamos aos associados a montarem projetos para conseguir financiamento, por exemplo, da Finep, para suas inovações. Também temos trabalhado muito para ajudar a comercialização dos produtos dos nossos associados por meio das linhas de financiamento, voltadas aos mercados interno e externo. Outro apoio que a Abimaq dá é um contato muito próximo aos bancos e também ao BNDES para linhas de capital de giro.

Este ano tivemos grande êxito nas negociações trabalhistas. A média das nossas convenções, no Sindimaq, foi um aumento de salário, em 2017, de 1,8%. Mas o que mais se destaca é que 100% das nossas convenções coletivas, todas as melhorias da CLT, dentro da reforma trabalhista, poderão ser utilizadas. Também prestamos serviços na área previdenciária, ajudamos nossos associados na área cível, na área comercial e, principalmente, nas áreas tributária e trabalhista.

Como é um ano eleitoral, também temos nossa atuação em Brasília, propondo novas leis, novos PLs, e nos defendendo daquelas que não nos interessa por meio da Frente Parlamentar em Defesa da Indústria de Máquinas (FPMAQ). Este ano, nós precisamos dar apoio aos deputados integrantes para que a frente fique mais robustecida ao fim das eleições. É um ano com uma agenda grande e, se Deus quiser, a crise ficou para trás – essa é a nossa mensagem nesses últimos dois meses.

 

Abimei

Sinais de retomada, mas é preciso enfrentar reformas estruturais

aulo Castelo Branco, presidente da ABIMEI

Por Paulo Castelo Branco, presidente da ABIMEI

As perspectivas para 2018 são melhores do que nos últimos três anos, em que sofremos muito com a recessão. Em 2018, já é possível identificar os sinais de retomada. Embora seja devagar, as empresas voltam a investir um pouco, contratar pessoal e, em certa medida, a trazer equipamentos importados de fora.

No entanto, vale ressaltar que essa retomada é lenta, e que os empresários estão de olho no cenário econômico, no político e nas eleições que serão realizadas neste ano.

Destaco também que um crescimento sustentável do setor e do Brasil como um todo só será possível se o país tomar as medidas necessárias para enfrentar as reformas estruturais que são essenciais, como a da previdência e a tributária.

Em 2017, a Abimei investiu na ampliação de sua sede e conta agora com uma programação de cursos, palestras e workshops que ajudam muitos membros do setor a se manterem atualizados em temas importantes para nossa área. Apenas em fevereiro realizamos dois eventos de muito sucesso: um sobre o regime ex-tarifário e outro sobre Indústria 4.0. Alguns cursos e palestras serão mais especializados, outros mais gerais, sempre tentando atingir públicos de interesse e auxiliar as empresas a terem as informações mais relevantes para poder prosperar.

Estamos também nos reunindo constantemente com pessoas do governo e da iniciativa privada para promover os interesses do setor. Além disso, estamos investindo em destacar o nome da Abimei na imprensa nacional por meio da divulgação de estudos e análises. E, desde 2015, tivemos um crescimento exponencial neste sentido, de modo que hoje a entidade está muito mais em destaque do que antes. Isso ajuda muito na defesa do setor.

 

ABFA

Setor de ferramentas animado com as perspectivas

Claudio Camacho, presidente do SINAFER e da ABFA

Claudio Camacho, presidente do SINAFER e da ABFA

O setor da manufatura de um modo geral assiste à retomada da economia e aí se inclui o segmento de ferramentas manuais, de corte, elétricas, instrumentos de medição, facas e serras etc. Entidades de classe como o SINAFER (Sindicato da Indústria de Artefatos de Ferro, Metais e Ferramentas em geral no Estado de São Paulo) e ABFA (Associação Brasileira da Indústrias de Ferramentas em geral, Usinagem e Artefatos de Ferro e Metal) estimam um crescimento próximo de dois dígitos em 2018, superando os 7% alcançados em 2017.

Essa expectativa tem fundamento no próprio processo de recuperação de setores que influenciam diretamente a área de ferramentas. Desde o segundo semestre do ano passado, o segmento automotivo, por exemplo, voltou a investir de maneira expressiva e continua crescendo nesse ano. Algumas empresas já estão trabalhando em três turnos, outras pretendem investir mais de dois bilhões para expansão de suas atividades e modernização do seu parque fabril, outras já até implementaram linhas de montagem 4.0 em sua produção. Segundo dados da Anfavea, o setor fechou o primeiro trimestre do ano com alta nas vendas, produção e exportação de veículos. As perspectivas são muito boas.

Outras áreas da indústria também não ficam para trás, como a indústria de óleo e gás, e indústria de equipamentos de energia que apresentam sinais de melhora e impactam o setor de ferramentas positivamente. O segmento de construção civil ainda se apresenta instável.

No caso específico de ferramentas de corte para usinagem também se observa a tendência de crescimento na casa de dois dígitos. Assim como nos demais segmentos representados pelo SINAFER e pela ABFA, a área de ferramentas de corte é diretamente afetada pelas montadoras e indústria de autopeças, que normalmente respondem pela maior parte do consumo de ferramentas para usinagem. Isso indica que o desempenho de 2018 será sem dúvida melhor do que no ano anterior.

A realização de duas feiras do setor metalmecânico, a FEIMEC 2018 (24-28 de abril no São Paulo Expo/SP) e a FEIRA INTERNACIONAL DA MECÂNICA (24-27 de abril no Expo Center Norte/SP) será um bom termômetro para se avaliar como está o grau de aquecimento da nossa indústria e também uma oportunidade para realização de novos negócios.

 

A ABFA e o SINAFER estarão presentes na FEIMEC, no estande C 337.

 

 

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