Faltam especialistas e PUC-PR e outras universidades oferecem cursos na área
*Por Denise Marson | Foto: iStockphotos
Cursos de especialização sobre segurança contra incêndio podem valorizar o currículo do engenheiro, uma vez que o Brasil carece desse tipo de mão de obra especializada.
Incêndios em empresas são mais comuns do que imaginamos. Só no primeiro semestre de 2018 a Femsa Coca-Cola teve sua fábrica de refrigeradores no interior de São Paulo destruída pelo fogo e a Drogaria Pacheco viu um dos seus centros de distribuição ser consumido pelas chamas em poucas horas no Rio de Janeiro.
Incêndios não consomem só patrimônio. Eles quebram cadeias logísticas, afetam negócios de terceiros, quebram as pernas do abastecimento, mancham a reputação das empresas e ocasionam perdas de market share que muitas vezes se tornam difíceis de reverter mesmo no longo prazo.
Apesar destes riscos consideráveis, há poucos engenheiros com especialização em prevenção e combate a incêndio no Brasil. De olho nesta lacuna, algumas instituições vêm investindo em cursos de formação nesta área. Um dos programas disponíveis no País é o curso de Engenharia de Segurança contra Incêndio e Pânico oferecido pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) no campus da instituição em Curitiba.
Com turmas formadas por cerca de 20 alunos, o curso da PUC-PR é essencialmente prático e envolve a elaboração de projetos por meio de dimensionamentos e cálculos específicos. Ele foi estruturado para durar 18 meses, distribuídos em 360 horas. Desde 2009, a PUC-PR já formou cerca de 120 especialistas. Ao todo, mais de 200 profissionais já fizeram o curso, no entanto, nem todos defenderam suas monografias. Para 2019, a previsão é a de oferecer 30 vagas
O curso da PUC-PR foi criado em 2009 pelo mestre em Engenharia Civil Ivan Ricardo Fernandes como trabalho de conclusão de sua graduação em Engenharia Civil. “A segurança contra incêndio só passa a ser um problema depois que o incêndio ocorre”, diz o especialista. Fernandes vê no programa uma oportunidade de “contribuir com estudos científicos na área de incêndio”, um tipo de bibliografia ainda muito escassa no Brasil.
Além da PUC-RS, há outras especializações ministradas no país. O curso também é oferecido na Universidade Regional da Bahia (UNIRB), que tem a mesma estruturação do curso da PUC-PR e teve sua primeira turma este ano. Fernandes menciona, ainda, a Faculdade Assis Gurgacz (FAG) e a Universidade Estadual de Maringá (UEM) como outros locais em que ajudou a implantar esse tipo de formação.
Para o especialista o aumento da oferta vem ancorado nas mudanças regulatórias sobre o tema. “O poder público tornou mais rigorosa a legislação preventiva e isto gerou a necessidade de que os profissionais da Engenharia e Arquitetura buscassem uma capacitação específica.”
O professor acrescenta que esta atribuição profissional – Engenheiro de Segurança contra Incêndio – é regulada pelos conselhos de classe (CREA e CAU) e, por muitas vezes, não há uma padronização em âmbito nacional. “Alguns atos administrativos têm procurado balizar esta necessidade de multidisciplinaridade de conhecimentos como, por exemplo, a Resolução nº 1073/2016 do CONFEA, que visa justamente regulamentar a atribuição de títulos, atividades, competências e campos de atuação dos profissionais registrados no Sistema CONFEA/CREA”.
Outras demandas e aprimoramentos
Com o intuito de contribuir com materiais para pesquisa sobre o tema de prevenção a incêndios, foi criado o Instituto Sprinkler Brasil (ISB) – uma organização sem fins lucrativos dedicada à divulgação de informações sobre a utilização de chuveiros automáticos para o combate ao fogo, os chamados sprinklers. Segundo Marcelo Lima, diretor-geral da entidade, dentre as principais vantagens com o uso desta tecnologia, pode-se listar o fato de os sprinklers agirem automaticamente a partir de determinada temperatura, sem a necessidade de atuação humana, permitindo que o fogo não se alastre e fique limitado ao compartimento de origem, o que resulta em uma efetividade de 92%.
O diretor da entidade vê com bons olhos iniciativas como a da PUC-PR, dada a falta desse tipo de profissional no País. “A maior parte das pessoas que atuam hoje aprenderam o que sabem na prática, entre acertos e erros. Como temos poucos profissionais preparados para atuar com as especificidades do nosso mercado, acabamos importando modelos internacionais que nem sempre se adaptam às nossas necessidades. Por exemplo, não temos registro no Brasil de projetos de prevenção e combate a incêndios em grandes silos, usados no agronegócio ”, avalia.