Ao trabalhar com pellets de madeira para a geração de energia limpa, a Koala Energy, de Rio Negrinho (SC), prega o uso consciente dos recursos naturais e defende a eficiência do processo em uma série de aplicações
*Por Denise Marson | Foto: Istockphoto
A pressão para que se reduza a emissão de poluentes ainda não é sentida com muita força no Brasil, mas esta realidade tem norteado muitas decisões em outros países, especialmente nos europeus. Foi isso que testemunhou o empresário brasileiro Sérgio Klaumann, quando visitou o velho continente em uma viagem de negócios. Ao conhecer de perto essas demandas, ele viu uma grande oportunidade de negócios: a geração de energia limpa por meio da queima de pellets de madeira.
Dono da Koala Energy, sediada em Rio Negrinho (SC), Klaumann passou a produzir este tipo de biomassa em 2005, quando percebeu que o mercado de exportação de molduras de madeira para os Estados Unidos – atividade desenvolvida por sua empresa nos três anos anteriores – estava desaquecido. Desde então, toda a equipe vem assumindo o papel de evangelizadora desta tecnologia para o ainda incipiente mercado nacional.
Com o intuito de divulgar as vantagens do uso da energia limpa gerada pelos pellets, a empresa participou, em agosto, de um Grupo de Intercâmbio de Experiências (GIE) promovido pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha. Durante o evento, realizado em São Paulo (SP), a Koala Energy mostrou que este tipo de biomassa caracteriza-se por sua alta eficiência energética e que sua emissão de CO2 é considerada neutra, uma vez que as árvores replantadas consumirão esses gases.
Além disso, enfatizou a importância de se adquirir um produto certificado – eles possuem duas certificações: a ENplus, que garante a qualidade do produto, processos de fabricação e entrega ao cliente e a FSC – Cadeia de Custódia, que atesta a procedência do produto de uma fonte sustentável.
Para entender de que forma o pellet pode gerar energia, é preciso conhecer os equipamentos chamados trocadores de calor. Compostos por uma série de tubos, eles são responsáveis por transmitir o poder calorífico de um meio para outro – no caso do pellet, o calor é transmitido para a água. Essa energia que é liberada na forma de calor pode ser quantificada por duas formas: PCI (poder calorífico inferior) e PCS (poder calorífico superior, que considera também a energia envolvida na condensação da água).
O mercado brasileiro
Em um estudo publicado na revista “Ciência da Madeira” no ano passado, os autores Dorival Pinheiro Garcia, José Cláudio Caraschi e Gustavo Ventorim fizeram um levantamento sobre o setor de pellets no Brasil. Segundo este trabalho, trata-se de um mercado jovem, que havia produzido 75 mil toneladas em 2015 e que apresentava três problemas principais: “baixo consumo interno, alto custo da energia elétrica e desconhecimento do produto pelos consumidores”.
Inserida neste contexto, a Koala Energy – que é uma empresa familiar – depois de ingressar na produção dos pellets em 2005, passou a fabricar também os trocadores de calor, em 2007. Com isso, encontrou maior abertura no mercado ao instalar seus primeiros sistemas em residências, hotéis, hospitais, lavanderias e, até mesmo, em algumas indústrias. “Hoje estamos fabricando em torno de 40 equipamentos por ano”, diz o engenheiro mecânico Natan Bittencourt, gerente de produção da empresa.
Os equipamentos foram desenvolvidos com tecnologia nacional – baseada em projetos de trocadores de calor com alta eficiência –, mas utilizam eletrônica importada. “Os comandos são trazidos da Itália”, conta Bittencourt. No país europeu, inclusive, encontram-se os maiores clientes da Koala.
Atualmente, a Koala possui cerca de 80 equipamentos instalados no Brasil. Entretanto, seus pellets também podem ser fornecidos para consumidores que utilizam máquinas fabricadas por seus concorrentes. “No geral, acredito que o mercado brasileiro deva ter em torno de 500 máquinas a pellet. Estimo que o consumo no País seja em torno de 5 mil toneladas por mês. É um número estimado pela quantidade de equipamentos disponíveis.”
Com uma produção variando entre 5 mil e 9 mil toneladas por mês, a Koala destina 88% desse total ao mercado internacional. Os pellets podem ser fornecidos em embalagens de 15 kg ou acima de 1 t, em uma embalagem especial, que é retornável.
“Ao trabalhar com pellets de madeira para a geração de energia limpa, a Koala Energy, de Rio Negrinho (SC), prega o uso consciente dos recursos naturais e defende a eficiência do processo em uma série de aplicações”
– Natan Bittencourt –
Uso limitado nas indústrias
Com relação às aplicações industriais, a utilização de pellets como geração de energia limpa ainda não está muito difundida – corresponde a apenas 15% da produção. Entre as razões, Bittencourt aponta para o preço, uma vez que há opções de combustíveis sólidos com valor mais competitivo. “Hoje a indústria tem acesso a combustíveis mais baratos como, por exemplo, o cavaco (resíduo não beneficiado proveniente da produção da tora de madeira), que não tem tanta industrialização. A questão é que ele emite alguns gases a mais que o pellet, porque ele não tem uma regulamentação, uma norma.”
Apesar de o cavaco de madeira ter um poder calorífico mais baixo, devido à maior umidade, seu preço representa 30 a 40% do valor do pellet. “Por todas essas razões, considerando o manuseio a mais e o custo do equipamento, muitas vezes, acaba compensando mais usar o cavaco no mercado industrial”, observa Bittencourt.
No entanto, o gerente de produção explica que o pellet é muito competitivo em mercados de indústrias menores, aquelas que não têm acesso a gás natural, ou quando a demanda térmica não é pelo vapor, e sim, pela água quente. Ele cita como exemplo, a aplicação muito bem-sucedida em uma empresa nacional, considerada a maior fabricante de parafusos da América Latina. “Eles utilizam pellets para poder aquecer os banhos de pré-tratamento do aço. Quando chegam as bobinas do aço, eles têm que aquecer para fazer o pré-tratamento do arame”, descreve. “Eles escolheram o pellet, primeiro, porque não há vapor envolvido na operação, apenas água quente. Além disso, a temperatura desejada está por volta de 70ºC. Então é possível atingi-la com eficiência e ter menos perdas”.
Até o momento, os melhores resultados obtidos com a adoção do pellet como fonte de energia estão, em sua grande maioria, no setor hoteleiro: alguns de seus clientes alcançaram economias que variaram entre 40 e 60%. Em sua cidade, Rio Negrinho (SC), também um hospital substituiu o sistema de aquecimento de GLP por pellets e teve economia de 55%.
Bittencourt acredita que a geração de energia por meio dos pellets possa ser usada por lavanderias industriais, entre outras empresas. “Indústrias de isopor, por exemplo, que precisam de água para pré-aquecer os moldes. Também pode ser aplicada quando é necessário fazer um pré-tratamento de pintura ou quando é preciso mergulhar em algum fluido quente para lavagem”, orienta o engenheiro.
O que é Pellet?
Os pellets são um tipo de biomassa feitos a partir de subprodutos de madeira. São oferecidos no formato de pequenos cilindros, com tamanhos variando entre 6 e 8 milímetros de diâmetro e 10 a 40 milímetros de comprimento. Segundo os fornecedores desse tipo de combustível sólido, esta geometria regular resulta em maior facilidade na queima e também possibilita que o processo seja automatizado.
Seu potencial calorífico provém de seu processo de fabricação, quando a madeira – proveniente de reflorestamento – tem sua casca retirada, é cortada e passa por uma secagem até virar um pó que vai ser comprimido para que adquira sua forma final. Após essas operações, seu teor de umidade fica inferior a 10%. Tudo isso deve ser feito sem o uso de produtos químicos.
Entre suas aplicações mais correntes estão a alimentação de lareiras residenciais, fornos, aquecimento de piscinas e também podem ser utilizados como insumo sanitário de madeira para animais (talvez seu uso mais conhecido).
Para que seja comprovada a boa procedência do produto, é importante atentar para certificações que garantam, por exemplo, que não foi usada madeira de origem ilegal ou que não haja produtos químicos que possam trazer efeitos nocivos para a saúde dos usuários e operadores, e para o meio ambiente, durante sua queima.