Laboratório Insper

Tradicional no ensino de Administração e Economia, o Insper quer consolidar um novo jeito de formar engenheiros

*Fotos: Divulgação

 

Fab Lab

Um dos mais novos laboratórios, o Fab Lab oferece a possibilidade de fazer protótipos em diversos materiais

Ao que tudo indica, uma nova geração de engenheiros está prestes a sair do “forno” do Insper – uma instituição que se tornou notória pela qualidade dos seus cursos voltados a negócios e economia. Após um longo período de formatação, que envolveu pesquisas e o levantamento de doações, o ano de 2015 marcou a estreia das turmas de engenharia mecânica, engenharia mecatrônica e engenharia da computação. O mercado, por sua vez, está ansioso para descobrir como essa mão de obra jovem poderá contribuir quando chegar aos postos de trabalho. A expectativa é gigante, proporcional ao tamanho dos investimentos feitos ao longo dos anos e ao empenho da instituição para implantar um novo mindset (algo como “modo de pensar”, em tradução livre) à profissão.

Os cursos de engenharia do Insper são a materialização de um sonho antigo de Cláudio Haddad, engenheiro mecânico industrial formado pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), doutor em Economia pela Universidade de Chicago e um dos fundadores da instituição. Seu intuito era promover um tipo de formação mais alinhada com as necessidades do mercado e, para isso, baseou-se em pesquisas feitas pela Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) para delinear o perfil do profissional que a indústria estava procurando. Como resposta, surgiram necessidades que englobavam conhecimentos sobre manufatura avançada, por exemplo o conceito de big data, que, na concepção dos gestores, fugia do “padrão MEC” estabelecido para o currículo tradicional.

Definido o tipo de profissional que gostariam de “entregar” ao mercado, foi a hora de criar um modelo para que esse engenheiro do século XXI fosse forjado. A inspiração veio da Olin College, uma faculdade de engenharia de Needham (nas adjacências de Boston), nos Estados Unidos. A instituição se notabilizou pelo currículo renovado, calcado principalmente na chamada engenharia “mão na massa” desde o início do curso, com bastante dedicação a projetos de desenvolvimento de protótipos. “Foi de lá que veio a ideia dessa engenharia desconstruída”, sintetiza o professor de design para manufatura Alex Bottene.

 

Seis vertentes

Maquinas para usinagem

Máquinas para usinagem permitem que os alunos construam protótipos mais sofisticados e com características mais próximas do produto final

Baseados na experiência em Needham, os mentores dos cursos de engenharia do Insper elencaram seis vertentes que norteariam o curso desde a sua concepção: consciência de contexto – avaliar todos os pontos que envolvem o projeto antes da entrega –, design centrado no usuário, conhecimento técnico, relacionamento interpessoal, empreendedorismo e “aprender a aprender”, ou seja, que o profissional deve ter um aperfeiçoamento constante e continuar a estudar após a conclusão do curso. “Os conhecimentos são todos aplicados. Por exemplo, o aluno aprende cálculo ao fazer simulação de protótipos”, descreve Bottene.

Formado engenheiro de produção pela USP São Carlos, Bottene dá aulas para as turmas de engenharia mecânica e de mecatrônica. Aos 31 anos, ele acumula experiências na área de manufatura e brinca que já se tornou um especialista em montar laboratórios, tendo integrado a equipe responsável pelo Instituto Fábrica do Milênio, em São Carlos (SP), o laboratório de estruturas leves (LEL) do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e, finalmente, os dois laboratórios do Insper (leia mais no box).

Bottene acredita que o presidente da instituição Cláudio Haddad estabeleceu um estreito relacionamento com pessoas que acreditavam em sua percepção do que poderia ser um curso de engenharia inovador, reunindo visões da academia, da indústria e da sociedade. “Ele tinha um networking de pessoas que queriam investir em um estudo diferenciado. Foram necessários dez anos de doações para que os cursos fossem montados e, hoje, temos um fundo para mantê-los”, explica Bottene, acrescentando que outra chave do sucesso está nas turmas reduzidas, de apenas 40 alunos por engenharia. “Isso facilita a dinâmica, porque é muita energia envolvida em cada projeto.”

 

Melhores mentes

Daniel Krás, gerente dos laboratórios Insper

Daniel Krás, gerente dos laboratórios Insper

Bottene conta que a popularidade e a boa aceitação que os cursos vêm adquirindo permite que a instituição também possa fazer sua contrapartida social. Com o intuito de “trazer as melhores mentes do Brasil”, o Insper tem se empenhado em selecionar alunos que demonstrem potencial por meio dos resultados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em todo o País.

Estes candidatos são entrevistados, juntamente com sua família, e para eles são oferecidas bolsas de até 100%, incluindo auxílio-moradia e uma verba adicional para visita mensal aos familiares que estejam em outra cidade ou Estado. Para que isso fosse possível, o fortalecimento do fundo de bolsas foi uma preocupação do fundador do Insper, Cláudio Haddad, que, além da contribuição via empresas, conta com a colaboração de ex-alunos – uma estratégia muito adotada em faculdades e universidades do exterior.

Outra base de sustentação dos cursos de engenharia está na formação dos corpos docente e discente. No primeiro caso, há um investimento muito forte na preparação dos professores, que passam por um estágio na própria Olin College. Já a seleção dos alunos que farão parte da instituição é feita em duas etapas: o vestibular propriamente dito e, posteriormente, uma dinâmica de grupo. “A primeira fase é técnica, que é o primeiro filtro. A segunda é como uma entrevista de emprego e tem caráter eliminatório”, explica Bottene. Adotado, a princípio, apenas pelas engenharias, o processo seletivo deu tão certo que acabou sendo incorporado, a partir deste ano, também para os cursos de administração e economia.

 

Soft Skills

Estrutura do Fab Lab

A estrutura do Fab Lab pode ser utilizada pelo público em geral, basta que o horário seja agendado e que o usuário leve seu próprio material

E quais são as qualidades que o Insper está buscando em sua equipe? Quem responde é o gerente de laboratórios Daniel Krás. A instituição avalia as competências técnicas, mas também privilegia as habilidades interpessoais (soft skills), para criar um ambiente em que alunos e professores possam desenvolver projetos juntos. Para ele, e no caso específico de quem trabalha nos laboratórios, o acolhimento é essencial. “O laboratório tem que acolher. Quem chega com uma dúvida, vai ser atendido e será ouvido.”

Sua própria formação serve para ilustrar o tipo de profissional que a instituição procura. Formado em engenharia de controle e automação e também em filosofia, Krás ainda acumula uma pós em gestão de empresas. “Eu trabalho um pouco de cada área: tenho sensibilidade na parte analítica, das ideias, também na parte de máquina, que envolve manutenção, desmontar CNC, entre outras coisas.”

Krás explica que, pelo fato de o curso ser voltado para a parte prática, o “mão na massa”, a demanda para a utilização de toda a estrutura é bastante alta. “A meta é a de que 50% do tempo em aula ocorra dentro do laboratório”, justifica. Seu trabalho é garantir que tudo esteja à disposição das turmas e, para isso, viabiliza as demandas dos professores. Depois disso, faz o trabalho de pesquisa de equipamentos, de assistência técnica, garantias e outros requisitos para garantir o fluxo das tarefas.

Ao estar em contato diário com alunos, professores e também visitantes e usuários eventuais do Fab Lab (veja box), Krás é quem recebe mais frequentemente os feedbacks sobre os cursos e a estrutura da instituição. “Recebo reclamações e elogios de alunos, professores e usuários externos, mas a curva média é de que a gente está ganhando. A experiência tem sido mais rica a cada semestre e isso é muito legal”, comemora.

 

Mão na massa e nas máquinas

Laboratórios reúnem o maquinário mais avançado para que a experiência prática seja a mais real possível

Alex Bottene

Alex Bottene, professor de design para manufatura dos laboratórios Insper | Foto: Leandro Arruda

Na concepção dos cursos de engenharia do Insper, os laboratórios são tão (ou mais) importantes do que o famoso quadro negro e as mesas e carteiras das salas de aula. Dedicados às engenharias, o TechLab e o FabLab, além de outros mais recentes como os laboratórios de Automação, Pneumática e Hidráulica e o de Ciências térmicas, fazem com que o método de aprendizado “mão na massa” seja viável. Além deles, há um planejamento para que haja um novo laboratório nas instalações do novo prédio, que atualmente está em fase de construção. “Almejamos ainda ter um laboratório de implementação, em versão industrial, que seja capaz de entregar produtos finais, não apenas protótipos”, antecipa o professor Bottene.

Os dois laboratórios são complementares e ambos foram concebidos para serem usados nas etapas de prototipagem, ou seja, não têm a intenção de desenvolver produtos finais, ainda que haja capacidade técnica para isso. Segundo o professor Bottene, o que diferencia o emprego de cada um deles é o nível de conhecimento dos alunos: enquanto o Fab Lab está voltado para uma prototipação chamada rápida, em um ambiente chamado de maker space, o Tech Lab requer um traquejo maior por parte dos usuários, por estar equipado com maquinário mais sofisticado, como centros de usinagem, que podem desenvolver processos mais complexos.

Abaixo, uma relação de alguns dos equipamentos disponíveis para as experimentações dos alunos:

 

Tech Lab

  • Máquina de prototipagem do tipo FDM (por deposição de material fundido), com rastreabilidade e maior confiabilidade de medição
  • Máquina para prototipagem que permite transferir o modelo da peça diretamente do programa CAD. Tem precisão de 16 µm e imprime em multimateriais
  • Impressora para gesso que permite o emprego de cores, usada para gerar protótipos e simular esforços e calorimetria, por exemplo
  • Centro de usinagem de pequeno porte
  • Robôs industriais
  • Gabinetes para ferramentas
  • Máquinas para lavagem de peças e outros acessórios de apoio

 

Fab Lab

  • Impressoras 3D
  • Máquinas de corte a laser
  • Router para a construção de maquetes
  • Máquinas e equipamentos para marcenaria
  • Tecidos e insumos eletrônicos para os protótipos

Em sua concepção, o Fab Lab é um espaço aberto para receber quaisquer empreendedores ou makers, independentemente de fazer parte ou não do Insper. Para usufruir da estrutura, basta fazer uma inscrição, respeitar as regras de segurança e levar o seu próprio material. A utilização por parte dos visitantes deve acontecer às quintas-feiras, das 13h às 19h.

 

 

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