14.08.2018

Pesquisa Câmara Americana no Brasil ouviu 130 executivos de empresas brasileiras e multinacionais de múltiplos países.

 

Um eventual aumento tarifário gerado pelo acirramento da tensão comercial entre os EUA e a China é um risco já considerado no negócio da maioria das empresas em operação no Brasil, de acordo com pesquisa inédita da Câmara Americana de Comércio no Brasil. A Amcham Brasil entrevistou, em agosto, 130 dirigentes de empresas brasileiras e multinacionais que atuam no mercado nacional que possuem negócios globais ou não. Para 66% desses executivos consultados, a tensão comercial entre as duas superpotências deve caminhar de fato para uma guerra comercial, levando 53% deles a incluir esse impacto como um risco de negócio de média proporção em suas análises internas, enquanto 13% o avalia como efeito negativo mais profundo no seu negócio.

“A percepção dos empresários brasileiros seguem em linha com os dados da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento que estima que, em caso de guerra comercial entre a China e EUA, as tarifas aplicadas às exportações brasileiras poderiam subir de 5% para 32%”, comenta Deborah Vieitas, CEO da Amcham da Brasil. “No cenário de guerra comercial, entre duas super potências, não há vitoriosos, embora alguns setores brasileiros possam ganhar no curto prazo, especialmente no setor de commodities”, complementa Vieitas, que comanda a maior Câmara Americana, entre 114 existentes fora dos EUA. No Brasil, são 5 mil empresas associadas, sendo 85% delas brasileiras.   

Para os entrevistados pela Amcham, as perspectivas de médio prazo são de que os países mais atingidos pelo aumento de tarifas dos EUA buscarão outros mercados para suas exportações. Para 42%, esse movimento prejudicará especialmente nações emergentes e setores no Brasil, como agricultura e processamento de alimentos. O segundo cenário mais votado pelos participantes, com 33% de respostas, foi a deterioração geral do cenário macroeconômico no Brasil.

 

Prioridades do novo governo

De acordo com 53%, o cenário internacional traz um desafio adicional para o governo a ser eleito em outubro – a necessidade de dar maior prioridade ao comércio exterior como plataforma de transformação econômica do País. Na lista de prioridades, do novo presidente eleito, devem entrar o diálogo bilateral com os seus principais parceiros comerciais, em especial, os EUA e China. Outras ações prioritárias foram a simplificação e desburocratização das operações essenciais de comércio exterior (51%), identificação e eliminação de barreiras comerciais para o acesso aos mercados (20%) e políticas públicas para ampliar investimentos de empresas brasileiras no exterior (4%).

Países que deram prioridade ao comércio exterior tiveram crescimento expressivo nas últimas décadas. “Nos últimos 70 anos, todos os países que realmente conseguiram mudar de patamar econômico tiveram entre 40% e 50% do seu PIB como resultado da soma de exportações e importações”, contextualiza a CEO da Amcham.  Foi o caso de países como Japão, Alemanha, Coreia do Sul, Cingapura, Hong Kong, Chile e Espanha. No mesmo período de tempo, o Brasil cresceu bem menos. “Se retirarmos da nossa avaliação histórica os períodos da monocultura da exportação, é muito difícil encontrar momentos da economia brasileira em que tenhamos tido mais do que 25% do nosso PIB como resultante da soma de importações e exportações.”

Na visão da Amcham, a eleição de outubro é a chance de reverter este cenário de baixa participação brasileira no comércio internacional. A entidade vem realizando um trabalho de influência na agenda dos principais pré-candidato à presidência. Até o momento, os presidenciáveis Geraldo Alckmin (24/6), Álvaro Dias (18/6), João Amoêdo (14/5), Henrique Meirelles (23/4) e Ciro Gomes (14/3), já assinaram o compromisso de estudar as propostas da Amcham para inclusão no seu programa de governo. As propostas assinadas pelos candidatos foram dividas em quatro pilares de atuação: Segurança Jurídica e Atração de Investimentos, Modernização do Sistema Tributário, Integração do Brasil nas Cadeias Globais de Valor e Fortalecimento da Relação Bilateral Brasil – Estados Unidos. A Amcham está no aguardo da confirmação de agenda com os demais pré-candidatos.

 

Inserção nas cadeias globais de valor
Questionados sobre a principal barreira à integração e inserção do Brasil nas cadeias globais de valor, 31% apontaram a insegurança jurídica e normativa para investimentos. Em seguida, vieram os custos poucos competitivos (27%), falta de acordos comerciais ou de investimento (25%), ausência de estímulos à internacionalização de empresas e financiamento e garantia às exportações (13%).

 

Brasil-EUA

No que tange as negociações Brasil-Estados Unidos, 56% dos empresários gostariam de observar um governo brasileiro com uma postura mais ativa de diálogo na relação bilateral, se comprometendo com um horizonte de negociação mais concreto. Para 33%, o diálogo já deveria ser intensificado no curto prazo, de forma a evitar possíveis novas sobretaxas.

Sobre a Reforma Tributária americana no Brasil, a maioria ainda não sentiu efeitos negativos. Para 62%, a queda do IDP (Investimento Direto no País), está mais relacionado ao contexto de incerteza eleitoral. Dado do BC (Banco Central) mostra que o desempenho das aquisições e empréstimos de matrizes no exterior a suas filiais brasileiras teve queda de 30% nos primeiros quatro meses do ano em relação à 2017. Só 25% dos respondentes atribui esta diminuição a redução dos impostos nos EUA, visando atrair e manter recursos no país.

 

Negociação via Mercosul

Apesar do cenário turbulento no comércio internacional, a maioria acredita que o risco de desglobalização aceleraria a concretização do tão discutido acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Para 58%, as chances de ser confirmado aumentaram em médio prazo devido ao esgotamento de um ciclo nacional-populismo(kirchnerismo e lulopetismo) nos dois principais sócios do Mercosul, mas dependeria da confirmação de um novo governo brasileiro pró-integração nas cadeias globais de valor. Outros 22% acreditam que o acordo será concretizado em curto prazo, independente do cenário eleitoral deste ano, e 18% não veem um desfecho positivo. “O certo é que hoje, o Mercosul é destino de apenas 14% das exportações brasileiras e existe um concreto potencial para aumentar essa fatia, se compararmos, por exemplo, com a União Européia que realiza 63% de suas exportações para os países que pertencem a esse bloco econômico”, diz Vieitas.

Além da União Europeia, 53% responderam que uma aproximação com a Aliança do Pacífico (México, Colômbia, Peru e Chile) seria a opção de maior impacto comercial. Outros 35% optaram pela China, seguidas de Canadá (4%) e Japão (2%).

 

Programa + Competitividade Brasil

Em 2018, a Amcham vem coordenando um trabalho de como o setor privado pode contribuir e construir soluções para o aumento da competitividade brasileira. O ciclo de debates “Seu País, Sua Decisão – Amcham + 2018” vem sendo realizado com os presidenciáveis mais bem colocados nas pesquisas. Os presidenciáveis Geraldo Alckmin (24/6), Álvaro Dias (18/6), João Amoêdo (14/5), Henrique Meirelles (23/4) e Ciro Gomes (14/3), já assinaram o compromisso de estudar as propostas da Amcham para inclusão no seu programa de governo, e a agenda com outros candidatos segue com atividades em agosto. Do lado privado, a Amcham já mobilizou mais de mil presidentes e diretores de empresas em São Paulo, e 50 mil executivos via transmissão online para 14 cidades brasileiras.

Os temas fazem parte do Programa +Competitividade Brasil da Amcham, lançado há dois anos, e que está dividido em quatro pilares de atuação: Segurança Jurídica e Atração de Investimentos, Modernização do Sistema Tributário, Integração do Brasil nas Cadeias Globais de Valor e Fortalecimento da Relação Bilateral Brasil – Estados Unidos. “A agenda da Amcham segue mobilizada sobre grandes temas, como equilíbrio fiscal, infraestrutura, logística, segurança pública, qualificação profissional, economia digital, diversidade, educação, saúde e sustentabilidade e preservação ambiental”, observa Deborah Vieitas.

No âmbito do comércio exterior, a Amcham defende a ampliação dos acordos comerciais. A baixa representatividade do Brasil no comércio internacional limita oportunidades de comércio e intercâmbio tecnológico, essenciais para desenvolver competitividade. A entidade entende que é preciso aprofundar acordos internacionais, avançar com a África e ter estratégia para o Sudeste Asiático, além de concluir negociações envolvendo a União Europeia, Canadá, Coreia e Japão.  A participação na OCDE, decisão sinalizada pelo governo brasileiro, também é apoiada pela Amcham.

Já no fortalecimento da Relação Bilateral Brasil-EUA, a Amcham Brasil propõe trabalhar pelo inicio de negociação de um acordo bilateral de investimentos, ressaltando que esse instrumento já foi assinado pelo Brasil com nove países e blocos. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial e o principal comprador de manufaturados do Brasil. É uma relação estratégica que deve ser priorizada.  No longo prazo, defende a retomada da perspectiva de um acordo comercial amplo. Estudo da Amcham-FGV de 2016 revela que um acordo comercial com os Estados Unidos ampliado e que eliminasse 100% das tarifas atuais possibilitaria ao Brasil incremento de quase 7% nas exportações e 1,29% no Produto Interno Bruto (PIB). É um fluxo potencial de comércio suficiente para justificar um acordo preferencial.

A defesa da competitividade brasileira e o desenvolvimento de negócios é uma marca registrada da Amcham há quase cem anos.

 

A PESQUISA

A Amcham Brasil ouviu 130 executivos de empresas brasileiras e multinacionais de múltiplos países, durante o seminário “As Novas Dimensões do Comércio Global”, realizado nesta quarta-feira (25/7), em São Paulo. A Câmara Americana reúne no Brasil cerca de 5 mil empresas associadas, sendo 85% delas brasileiras, sendo a maior Amcham entre 114 existentes fora dos EUA.

 

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